- Alô? Alô! Quem é? Alô?!
E o telefone desligava. Era isso há três semanas.
-Eu amo você, Eduardo.
- Eu te amo, Bianca.
Eles estavam no quarto de Bianca, escondidos. Eduardo morava no andar de cima e pra ele era fácil pular para a sacada do andar de baixo. Os pais não podiam nem sonhar que isso acontecia, de nenhum dos dois. Eles eram inflexivelmente contra aquela "paixãozinha estúpida que nunca daria em nada". Mas eles não se importavam. Estavam na sacada do quarto de Bia, ela sentada e ele de pé em frente a ela. Era quase uma da madrugada e Eduardo tinha que voltar.
- Quero meu beijo de despedida.
E o beijo se estendia.
- Bianca! - seu pai aparecera em seu quarto. No susto com o grito do pai, Bianca caiu da sacada. Um vôo do terceiro andar ao asfalto.
- Bia! - Eduardo se desesperou e passou correndo pelo pai de Biana que estava estático na porta, onde gritara a filha. Eduardo desceu as escadas correndo e encontrou Bia desacordada na rua,
- Socorro! Por favor, chamem uma ambulância! Bia, Bia, meu amor! Eu não vou deixar você, por favor, não me deixe!
"Era tudo perfeito. Lembrou-se da primeira noite que passaram juntos e começou a viver a partir daí. Estavam numa casa em frente a um lago. Moravam lá, os dois. Eram felizes. Ah, Eduardo..."
- Não é verdade! Isso não aconteceu! Eu sinto, não pode ser. Eu a pedi que não me deixasse. - Eduardo reagiu a soluços ao que o pai de Bia lhe dizia.
- Sim, Eduardo. Infelizmente minha filha está morta.
Eduardo foi para casa arrasado, sem saber o que fazer. Mais uma vez, desespero.
O pai estava realmente mentindo. Para Bianca foram três longos meses em coma. Para Eduardo, uma eternidade de dor. Seu quarto se transformou num santuário para Bia. Desenhos e fotos dela espalhados por toda parte em meio a uma imensa bagunça. A desordem do quarto nada mais era que um retrato fiel da desordem da cabeça daquele garoto. Há três meses ele não fazia nada a não ser lembrar Bianca. Quase não comia, não saia do quarto. Chamava por Bia a todo momento, escorria-se nas paredes. Diziam que tinha enlouquecido e os pais até consideraram interná-lo. Estava na janela do quarto perdido no nada quando a viu passar. Era ela, só podia ser! Ele sabia que ela não estava morta. E ele não estava louco. A garota entrou num taxi e foi embora.
O pai de Bianca havia se mudado Eduardo não sabia pra onde. Pegou a lista telefônica e procurou pelo nome Neron Toresco.
3275-8896
- Eu vou te encontrar, Bia. Meu amor...
Ligou na manhã seguinte. Uma linda voz atendeu.
- Alô?
Era ela. Ele nunca se esqueceria daquela voz. O que dizer?
- Alô? Se isso for algum tipo de brincadeira...
Desligou. Ela não lembrava dele. Eduardo acabara de entender que Neron estava mentindo todo esse tempo. Por quê? O que teria acontecido com Bia? Ele não podia arriscar falar por telefone. Resolveu encontrá-la. Mas não imediatamente. Ele estava horrível. O peso da dor, o reflexo no corpo. Ligou algumas vezes mais e por fim mandou uma carta.
" Só preciso ter certeza de que era mentira. Precisava saber que você estava viva. Obrigado pela sua voz..."
Que bilhete estranho era aquele? Provavelmente era da pessoa que ligava, mas quem poderia ser? Bianca resolveu sair. Eduardo, que estava na rua esperando, a seguiu. Ela se sentou num banco um uma praça que ficava sempre vazia. Eduardo a ficou observando por um tempo... Andou e parou de pé atrás dela, sem que ela o pudesse ver. Encostou em seu ombro e estendeu-lhe uma flor. Bia levantou-se e olhou fundo nos olhos daquele rapaz.
- Eduardo!
Ela se lembrava.