"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E aos 45 do segundo tempo...

You took my heart and you had in in your mouth
And with the word all my love came rushing out
And every whisper it's the worst
Empty though by a single word
There is a hollow in me now
So I put my faith in something unknown
I'm living on such sweet nothing
But I'm tired of hope with nothing to hold
I'm living on such sweet nothing
And it's hard to learn
And it's hard to love
When you're giving me such sweet nothing
You're giving me such sweet nothing
It isn't easy for me to let it go
Cause I swallowed every single word
And every whisper, every sigh
It swept this heart of mine
And there is a hollow in me now
So I put my faith in something unknown
I'm living on such sweet nothing
But I'm tired of hope with nothing to hold
I'm living on such sweet nothing
And it's hard to learn
And it's hard to love
When you're giving me such sweet nothing
You're giving me such sweet nothing
And it's not enough
To tell me that you care
When we both know
The words are empty air
You give me nothing!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sobre dias nublados.



Lisandra chegou cansada em casa naquela quarta-feira. Eram 18:30 quando ela decidiu que pegaria o elevador ao invés das usuais escadas para chegar ao 1403. Apertou o botão com o número 14 e ficou olhando apática seu reflexo no espelho.
Chegando, trancou a porta e foi deixando rastros pela casa enquanto andava, como se desmontasse. Bolsa, sapatos, casaco, brincos, chaves... Virou os porta retratos -com sua foto de criança acompanhada dos pais e a foto adulta com o namorado ausente – para baixo. Tirou as roupas que ainda lhe restavam no corpo e colocou um blusão. Ligou baixo o som na sala e foi para a cozinha preparar uma dose do que tivesse no armário.
Passou por todos os canais da TV até desliga-la. Revirou-se em todas as posições imagináveis e inimagináveis pelo sofá até parar estirada no chão. Fechou os olhos por alguns minutos. Escuro.
Desligou o som e voltou para a cozinha. Enquanto preparava outra dose, o reflexo do sol no armário atingiu-lhe em cheio o rosto. Ela virou de costas e viu a enorme porta da sala para a varanda. Caminhou até lá, viu o sol se punha e acompanhou com a cabeça um pássaro que mergulhava cortando o ar à sua frente. Olhou para baixo, recostou a cabeça no parapeito como se cochilasse. Fechou bem os olhos, respirou fundo e ergueu-se.
Vou pular.
Passou uma perna sobre o parapeito. E a outra.
Sentada, olhou para baixo – os carros e pessoas passando – e sentiu medo da altura. Virou-se rapidamente a cabeça para frente.
Alguém a observava. Era um homem no prédio em frente ao seu, 15º andar. Estava sem camisa, parado à sacada num jeans claro. Fez que não com a cabeça para Lisandra, ao ponto em que ela começou a chorar. Ele fez sinal para que ela esperasse e entrou. Pouco depois voltou à sacada com uma rosa vermelha na mão. Ergueu-a em direção à Lisandra e depois jogou-a. Um voo livre até o asfalto que fez Lisandra desequilibrar-se enquanto acompanhava. Recuperando o equilíbrio e o susto, ela olhou novamente para o homem, agora assustado. Ela não conteve mais algumas lágrimas e fez que não para ele num gesto de cabeça. Foi quando então ele passou uma perna por sobre o parapeito, e a outra. Estavam agora os dois sentados às suas varandas. Um olhando fixa e profundamente para o outro. Ficaram assim por alguns minutos, como se suas almas se tocassem e deixassem entender. Lisandra impulsionou-se mais um pouco para frente e observou que o homem fez o mesmo. E de novo. Quase já de pé, os dois, a um suspiro da queda, Lisandra reparou uma única lágrima percorrer o rosto daquele homem.
Como um reflexo, Lisandra suspirou como se puxasse um pouco de vida junto com o ar frio. Sentou-se novamente e o mesmo fez o homem. Voltou uma perna para dentro da varanda e a outra. E o homem.
De pé, cada um dentro de sua respectiva sacada, continuaram a se olhar.
Ele sorriu.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre verdades e amores.



Melhor lido ao som de: http://www.kboing.com.br/lana-del-rey/1-1101573/


My old man is a bad man
But I can't deny the way he holds my hand
And he grabs me, he has me by my heart

                Ela é uma perfeita mulher a la década de 50. Ele, um gangster famoso por nunca ter sido pego pela polícia.

He doesn't mind I have a Las Vegas past
He doesn't mind I have a L.A. crass way about me
He loves me with every beat of his cocaine heart

                Ela pronuncia essas palavras apoiada na beirada da piscina enquanto observa seu homem deitado ao sol.

Swimming pool glimmering, darling
White bikini off with my red nail polish
Watch me in the swimming pool
Bright blue ripples, you
Sitting sipping on your black cristal, yeah

                Ela sai da piscina e vai andando em sua direção. Deita ao lado dele na cadeira e pega sua bebida.

Light of my life, fire in my loins
Be a good baby, do what I want
Light of my life, fire in my loins
Gimme them gold coins, gimme them coins

                Ela o beija, divide com ele o cigarro e se recosta em seu peito.

And I'm off to the races
Cases of Bacardi chasers
Chasin' me all over town
Cause he knows I'm wasted
Facing time again on Rikers Island
And I won't get out
Because I'm crazy, baby
I need you to come here and save me
I'm your little Scarlet, starlet
Singing in the garden
Kiss me on my open mouth
Ready for you

                Ele a beija e desliza sua mão pelo corpo da mulher.

- x -

My old man is a tough man
But he got a soul as sweet as blood red jam
And he shows me, he knows me
Every inch of my tar black soul

                Ela está enrolada nos lençóis ao lado dele na cama o olhando dormir.

He doesn't mind I have a flat broke down life
In fact he says he thinks it's what he might like about me
Admires me, the way I roll like a rolling stone

                Ela o acaricia.

Likes to watch me in the glass room
Bathroom, Chateau Marmont
Slipping on my red dress, putting on my make up
Glass room, perfume, cognac, lilac fumes
Says it feels like heaven to him

                Ela está se arrumando numa penteadeira enquanto ele a observa na porta do aposento. Eles se encaram pelo espelho.

Light of his life, fire of his loins
Keep me forever, tell me you own me
Light of your life, fire of your loins
Tell me you want me, gimme them coins

                Ela levanta e vai de encontro a ele até a porta. Chegando, para. Ele alisa seus cabelos acompanhando o contorno de seu rosto e segura seu queixo.

And I'm off to the races
Cases of Bacardi chasers
Chasin' me all over town
Cause he knows I'm wasted
Facing time again on Rikers Island
And I won't get out

                Eles descem uma grande escadaria que dá no salão de festas da mansão onde vivem.

Because I'm crazy, baby
I need you to come here and save me
I'm your little Scarlet, starlet
Singing in the garden
Kiss me on my open mouth

                Ela sopra os dados para lhe dar sorte.

Yeah, I'm off to the races, laces
Leather on my waist is tight
And I am falling down
I can see your face is shameless
Cipriani's basement
Love you but I'm going down

                Ele é um excelente jogador.

God I'm so crazy baby
I'm sorry that I'm misbehaving
I'm your little Harlot, starlet
Queen of Coney Island
Raising hell all over town
Sorry 'bout it

                Eles dançam juntos, colados um ao outro. Ele se afasta, beija sua mão olhando eu seus olhos, e a deixa. Vai andando para a porta do salão. Ela sabe o que ele vai fazer agora.

My old man is a thief
And I'm gonna stay and pray with him 'till the end
               
                Ela tem um copo de champanhe na mão e vai andando lentamente em direção à porta por onde ele passou, observando-o ir. Pronuncia cada palavra num sussurro.

But I trust in the decision of the Lord to watch over us
Take him when he may, if he may
I'm not afraid to say that I'd die without him

                Ela abaixa o braço fazendo com que o champanhe derrame no chão.

Who else is gonna put up with me this way?
I need you, I breathe you, I'd never leave you
They would rue the day I was alone without you

                A taça cai. Quebra-se.
-x-

You're lyin' with your gold chain on
Cigar hanging from your lips

                Ela atravessa a sala em direção à poltrona onde ele está deitado. Ele fuma um cigarro, tem um copo de uísque na mão e uma atadura no peito. Ela diz:

I said
"Hun, you never looked so beautiful
As you do now, my man"

                Eles estão na rodovia, ele dirige, ela tem seus cabelos dançando pelo vento.

And we're off to the races, places
Ready, set the gate is down
And now we're going in
To Las Vegas, chaos
Casino oasis
Honey it's time to spin
               
                Ele tem uma mão no volante e a outra na perna dela.

Boy you're so crazy baby
I love you forever, not maybe

                Ela acaricia o cabelo dele enquanto diz:

You are my one true love
You are my one true love

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sobre a sua preferência.


Eu sou a Augusta. Diagnosticada com transtorno bipolar com tendência ao autismo desde que posso me recordar. Minha cabeça não é o caos, minha vida é. E o mundo. Por isso resolvi me fechar a ele. Há algo de errado com as pessoas que eu ainda não descobri o que é. O contato máximo que me permito ter com elas é através de um vidro, seja ele o de uma janela, uma porta, ou uma televisão. Especialmente o último. Contrariando todas as expectativas para uma pessoa como eu, amo cinema. Me entrego aos filmes, histórias, lugares e personagens; porque eu sei que estão protegidos por uma camada de filme, outra de plástico e um vidro espesso. E eu, pelos mesmo meios, protegida deles. Só há uma pessoa que eu não quero barrar, ele. Ele é o meu paraíso pelo simples motivo de me desligar. Quando ele chega olhando nos meus olhos e sorrindo, o mundo para de zunir lá fora. Basta eu me lembrar que é um olhar de pena entre médico e paciente para que aquela parte de mim comece a gritar. Por quê? Será que ele pensa que eu sou doente?! É assim então que ele me vê?! Ele está errado. O mundo é que é doente! E então ele me desliga mais uma vez, mas dessa vez de verdade. Um efeito que dura algumas horas... Depois o mundo volta a zunir, e minha cabeça tenta reorganizar o caos. De novo, tudo igual. Até onde se possa dizer, normal. Voltamos a ser o silêncio, os filmes e eu. Hoje pela manhã fui até a janela. Lá na rua estavam o Doutor Coitadinha-da-minha-paciente com uma mulher. Eles estavam felizes, como os casais protegidos pela televisão. Eu toquei o vidro da janela, agora sim eu queria quebrar toda proteção que me separava dele, naquele momento me dei conta da tamanha dependência que eu criara para com ele. Foi quando vi meu reflexo no vidro. Me assustei sinceramente! Olhava para mim e via meus ossos, meus olhos saltavam do meu rosto magro! Marilyn, a eterna senhorita Monroe, uma vez disse que se fosse para alguém ser duas caras, que fizesse ao menos uma delas bonita. Me desculpa, não consegui. Nenhuma delas. Em mim uma face gritava de dor e a outra desorbitava em desespero. O que eu fiz de mim? O que eu fiz de nós? O que o mundo causou? Eu chorei. Simplesmente. Me cedi ao chão frio e chorei...