"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sobre proteção.

   João Gabriel estava aproveitando suas férias com a mulher e os filhos em sua fazenda. A mulher era jovem como ele e os filhos eram gêmeos, um casal.
Enquanto brincava na lagoa com as crianças recebeu uma ligação do trabalho, precisava assinar alguns papeis da empresa.
- Geovana, Heitor! Hora de voltar! Papai tem que ir. Vamos, saindo da água os dois. Quem sair por último ganha cosquinhas.
As crianças saíram e quando os três chegaram à casa na fazenda, Bertie, o labrador, latia loucamente com o olhar fixo na cerca.
João colocou os filhos em casa, beijou a esposa e saiu depressa ainda explicando porque tinha que ir e que logo voltaria.
- Bertie, pare de latir pro nada, garoto. Preciso sair, vamos!
João entrou no carro. Quando já tinha saído da fazenda, olhou o retrovisor e viu um par de olhos. Freou bruscamente, tinha uma pessoa no banco de trás. Arrepiado, virou-se para ver quem era e não tinha ninguém. Respirou fundo e voltou a dirigir. Quando estava já no meio da ponte, João sentiu seu carro desacelerando mas ele não pisava no freio e o tanque estava cheio. Tirou o pé do acelerador e as mãos do volante. O carro começou a voltar. Sozinho. Tudo voltava, os carros que João havia ultrapassado passavam novamente por ele, as árvores ao final da ponte pareciam andar para frente. Era como se o tempo estivesse voltando. O tempo estava voltando. João chegou na fazendo, saiu do carro, falou com Bertie, beijou a esposa, foi com os filhos no lago, tudo involuntariamente. Era como se todos estivessem numa hipnose que os fizesse voltar, exceto João. Ele voltava sem o comando de sua mente, ele estava assustado. Quando desligou o celular as coisas voltaram ao normal. Mas João não conseguia falar. Estava sem fôlego, o coração acelerado. Olhou para os filhos mas não conseguia mandá-los sair da água. Bertie vinha correndo, pulou em João e o jogou na água.
- Bertie!
João siau da água, mandou os filhos voltarem para a casa e foi pegar Bertie que estava correndo. Quando alcançou o cão, viu que sua coleira estava presa em um arbusto. Demorou um pouco para soltá-lo e voltou para a casa. Ao entrar, enquanto falava para a mulher que teria que voltar à empresa por alguns minutos, ouviu-se um barulho ensurdecedor, como se fosse uma explosão. João Gabriel chegou na janela para ver o que era. Havia um jovem encostado em seu carro acariciando Bertie. Ele tinha os olhos que João vira no retrovisor e mais, tinha asas. O jovem sorriu para João que estava sem reação na janela e saiu andando pela estrada.
A ponte havia caído.

Um comentário:

  1. Incrível o texto. O nome Gabriel já nos sugere muito... Proteção mesmo! =D (sua sumida!)

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