Eu devo mesmo ser um
homem triste. Ela pensou enquanto colocava o ponto final do seu último conto.
Estava sentada sozinha à mesa de um tradicional bar francês em frente a uma
praça... Tomava seu chá calmamente e fumava seu cigarro. Nas mesas a sua volta estavam
um jovem casal, uma mãe com sua filha, um casal de idosos, dois amigos... Ela
conseguiria facilmente desenrolar uma história para cada mesa...
O jovem casal conversava
com o olhar... A moça pensava que finalmente encontrou o homem da sua vida, já
planejava o noivado, casamento, lua de mel e filhos. Mas sorria e passava a mão
pelos cabelos como quem não quer nada pra disfarçar... O rapaz pensava que
daqui vinte minutos começava a partida decisiva do seu time de futebol. Ou
seja, ele tinha vinte minutos pra arrumar um jeito de tirar a nova namorada
dali, chegar em casa, pegar uma cerveja e se segurar no sofá. Mas ela não podia
saber disso, ele tinha que demonstrar que estava indo embora porque...
Porque... Porque estava cansado. Muito cansado. Ele bocejou.
A filha não desgrudava do
celular, conversando com 15 amigos ao mesmo tempo e mais 3 rapazes, já que ela
ainda não decidira com qual dos três iria ficar definitivamente. A mãe,
obviamente se sentindo sozinha, se perguntava porque a filha escolhera ficar
com ela no divórcio e não com o pai, já que as duas nunca se deram bem e ela
sempre acaba se sentindo sozinha. Nas próximas férias e filha definitivamente
ficaria com o pai e ela viajaria pra um lugar bem quente pra poder andar sob o
sol e quem sabe não encontrar um novo amor...
O casal de idosos estava
em silêncio. Mas não um incômodo silêncio cortante. Um silêncio pacificamente
leve e apaixonado. Eles olhavam um para o outro, com um semblante sorridente e
se acariciavam as mãos sobre a mesa. Estavam na França à passeio... Ambos
pensavam na sua longa vida juntos, os filhos, netos... Como foram felizes e
como o seu amor permanece forte. Eles sabem com toda certeza que fizeram a
escolha certa.
Esses dois amigos
conversando não são só dois amigos. São gays, querem namorar, mas não sabem
ainda. É só o tempo de se despedirem pra acontecer um beijo roubado e estar
tudo certo.
E eu, bem... Eu sou uma
mulher relativamente jovem, que optou por ficar sozinha. Sou escritora e tento
parar de fumar há 3 anos. Sou uma solitária incurável. Talvez por isso tenha
abandonado todos os meus amores da juventude... Essa é a história da mulher que
se senta sozinha à mesa. Mas a verdade está no que eu escrevo... Naturalmente
as palavras saem de mim numa primeira pessoa masculina. E as minhas histórias,
bem... Pegue um livro meu que você vai entender que eu não sou a pessoa mais
engraçada que você vai conhecer na vida. É, sim... Eu sou um homem triste.
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