A minha vizinha tinha um gato. Daqueles com espírito de gato
mesmo, que só aparecem pra incomodar. Todos os dias eu pedia à minha esposa que
fechasse a porta da varanda pra que ele não entrasse. Ela dizia repetidamente
“- Você está certo, você está certo. Vou fechar com trava!”. No outro dia a
porta estava aberta, cheia de arranhões e havia cortinas rasgadas na casa.
- Você não disse que fecharia a porta?
- Devo ter ficado com sono e me esquecido, querido. Isso não
acontecerá de novo.
No outro dia, leite espalhado por toda a cozinha e eu quase
levo um tombo daqueles!
- Me desculpe, querido. Isso não acontecerá de novo.
No outro dia minha coleção de orquídeas com vasos quebrados
e pétalas despedaçadas.
- Me desculpe, querido. Isso não acontecerá de novo.
No outro dia um presentinho fedido do gato bem na minha
poltrona.
- Me desculpe, querido. Isso não acontecerá de novo.
No outro dia, saindo de casa para o trabalho me deparo com o
projetinho de felino no meu caminho. Sentado impassível à minha frente, olhando
para mim e miando como quem não quer nada. Quanta audácia!
Naquele dia quem trancou todas as portas e todas as janelas
fui eu. Basta de intrusos na minha casa.
Chega de gatos na minha vida!
- Agora, querida, isso realmente não acontecerá de novo.
Minha metafórica vizinha tinha, metaforicamente, um gato
metafórico.
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