"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Sobre contagem de dias.
Era 1920 e o casal estava sentado à uma mesa de uma simpática cafeteria
holandesa. Dividiam-se entre carícias e chocolate quente quando a
irmãzinha do rapaz chegou correndo com um envelope nas mãos e
entregou-lhe. Ele abriu o envelope e leu a carta. Olhou para a namorada à
sua frente com olhar cauteloso, levantou-se, ajoelhou-se em frente a
ela, abraçou-lhe e beijou-lhe com certa urgência. Entregou a ela a carta
para que lesse. Ele estava sendo convocado para servir às forças
armadas holandesas por um ano na iminete guerra. Tinha uma semana para
apresentar-se. Durante essa semana ela ficou pensando como se fazer
lembrar para ele mesmo em meio à guerra. No último momento antes do
embarque, ela entregou-lhe uma pequena caixinha de madeira e disse-lhe
que abrisse somente no seu primeiro dia de ações militares. Assim ele
fez. Ao abrir a caxinha estava escrito "Leia apenas um por dia." Haviam
365 bilhetinhos, um para cada dia do ano que ele passaria fora, com
lembretes do quanto ela o amava e esperava por sua volta. O ano passou e
ele retornou. Ao vê-la, devolveu-lhe a caixinha e a disse que abrisse.
Nela havia agora, um anel e outros 365 bilhetinhos. Ele ajoelhou-se,
pediu-a em casamento. Eles viriam a se casar há exatamente um ano dali, e
ela leria um dos 365 bilhetinhos por dia até a data do casamento,
lembrando-se diariamente do amor que nutria por ela o homem com quem se
casaria. E assim foi...
domingo, 18 de agosto de 2013
Sobre poeminhas.
Não sou bom em nada.
Música só sei ouvir,
poesia só sei ler,
filosofia nem sei discutir,
quadro só sei ver,
história só sei ouvir...
Mas e amar?
Ah, sei sim! Mas só sei amar você!
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Sobre sono.
Tô numa insônia danada e só consigo pensar em você. E aí me
vem inspiração e eu me pergunto: por que ela não te traz de companhia? Que é
pra chegar invadindo a paz do meu quarto e o desassossego do meu coração. Que é
pra causar reboliço na minha paixão e me acalentar no seu calor. Quero traçar
com minhas mãos toda a extensão do seu rosto enquanto você deixa que minha boca
reconheça a sua... Mas não te ligo, não quero te acordar. Se eu vou até a
janela, o céu é tão escuro quanto seus cabelos e as estrelas cadentes ainda não
sabem teletransportar. Se ligo o som é
aquela musiquinha gostosa que está tocando, aquela que te faz se enroscar todo
em mim e dormir como se nada mais existisse a não ser o bater dentro do meu
peito. Não vou nem tentar escrever... Palavras apenas, não. Fui tomada! Desligo
o som, faço o som. O violão se facilita até mim e é irrecusável. O tempo passa,
olho pro relógio que marca 4 horas. Volto a me deitar. Ainda precisando de
você... Até amanhã, meu amor.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Sobre horizontes.
Um casal.
- Amor, eu tenho uma proposta.
- Diga!
- Nós vamos pegar o carro agora e sair sem rumo. Vamos pra algum lugar bem longe, que seja bonito, mas que não tenha quase nada. Quando encontrarmos um lugar que nos tire o fôlego, vamos mandar construir lá uma casinha, pequena, onde caibam todos os bons sentimentos do mundo. Mas não é pra ser 'nossa' casa. Nós vamos deixá-la aberta... Nada de trancar. Ela precisa ser um refúgio pra quem passar por ali. Vamos dar um lugar para que os casais apaixonados possam doar-se ao seu amor, um pequeno lar para as crianças que querem se esconder da chuva, um esconderijo para que amigos possam jogar fora a vida em palavras infinitas... E nós, quando quisermos fugir do resto do mundo, teremos um ninho para ser desfrutado como bons amantes que somos, um cantinho pras nossas brincadeiras de criança e o infinito se abrindo pra nossa sempre amizade. E então?
- Agora é a minha vez de dizer SIM! Você não imagina como eu te amo!
- Amor, eu tenho uma proposta.
- Diga!
- Nós vamos pegar o carro agora e sair sem rumo. Vamos pra algum lugar bem longe, que seja bonito, mas que não tenha quase nada. Quando encontrarmos um lugar que nos tire o fôlego, vamos mandar construir lá uma casinha, pequena, onde caibam todos os bons sentimentos do mundo. Mas não é pra ser 'nossa' casa. Nós vamos deixá-la aberta... Nada de trancar. Ela precisa ser um refúgio pra quem passar por ali. Vamos dar um lugar para que os casais apaixonados possam doar-se ao seu amor, um pequeno lar para as crianças que querem se esconder da chuva, um esconderijo para que amigos possam jogar fora a vida em palavras infinitas... E nós, quando quisermos fugir do resto do mundo, teremos um ninho para ser desfrutado como bons amantes que somos, um cantinho pras nossas brincadeiras de criança e o infinito se abrindo pra nossa sempre amizade. E então?
- Agora é a minha vez de dizer SIM! Você não imagina como eu te amo!
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Sobre conhecer pessoas.
No começo era o contrário. No começo eu flutuava e fazia questão de me
esforçar pra ficar no mais alto que era pra não ter que esbarrar em nenhuma beirada
sua. Não era autossuficiência, era medo. E como absoluta covarde que sou, num
soluço de coragem eu pousei. Pousei calculadamente. Mas era só um soluço e a
estação dos ventos não veio pra me levantar de novo. Que estupidez, cegar-se
diante do desconhecido. Foi logo depois de dar alguns poucos passos que
constatei que acabei me machucando no meu pouso, mesmo eximiamente calculado.
Você rodopiava um cata vento em cores para todos os lados que me fez rodar, e
tontear, e perder o ar, e titubear, e me lançar, e eu me perdi. Agora eu vejo
que muito pouco fez sentido antes disso, mesmo sabendo que muito pouco já fizera
sentido pra você um dia. Ironicamente, quem acabou fazendo a cascata na minha
vida foi você. Você me insinua a viver sem precisar de nenhum esforço, sem nem
saber. Você me faz arriscar, menina! Mas é segredo. E é bem contrário ao que eu
pensei... Bem contrário ao começo.
domingo, 24 de março de 2013
Sobre árvores de neon.
No meu já conhecido esgotamento por tanto fazer, decidi pegar meu carro um fim de tarde e ir. Pra qualquer lugar. Sumir. As rodas foram girando até me levarem a uma campina com uma velha árvore sozinha. Sentei-me à sua sombra e fiquei ali observando o laranja do crepúsculo lavar o céu.
Adormeci.
Uma criança escondida debaixo de uma mesa velha de venda de rua. A época é outra, muito distante. Ela está enrolada em uma capa, com o capuz cobrindo o resto. Ela respira nervosamente e parece esconder algo sobre a capa.
Uma explosão. Meu Deus, o que está acontecendo? Tudo treme e uma poeira se espalha em toda parte. A criança tosse. Respira fundo, olha por sobre a mesa e corre. Corre tanto que tenho que lutar para acompanhá-la.
Há pessoas mortas no chão e muitos feridos espalhados. É um cenário de guerra. Talvez seja uma, eu não sei...
Um homem fardado em preto agarra a criança por trás. O capuz cai, é uma menina. Ela se debate duramente tentando se livrar daqueles braços estupidamente fortes que a sufocam. Por fim ela o morde. Ele grita um grito surdo, coberto pelo barulho de outra explosão e a solta. A menina então recoloca o capuz e volta a correr.
Quando o homem a soltou, ela provavelmente se machucou na queda, agora manca da perna esquerda mas corre. Ainda muito.
Ela se afasta cada vez mais do vilarejo que estávamos. Vendo mais de longe posso afirmar: é uma guerra. Há tanques por toda parte e zeppelins, muitos deles circulando o céu.
A menina agora entra em um túnel muito baixo, preciso ficar de joelhos para conseguir atravessá-lo. Ao fim do túnel há três lobos. O macho alfa com seus dentes à mostra. A menina para um instante assustada. Com muito cuidado ela se aproxima dos lobos que começam a fazer barulhos ferozes com suas gargantas. Ela estende a mão e consigo ver alguma coisa nela, como se fosse uma espécie de tatuagem, algum símbolo gravado. Ela acaricia o macho alfa e os lobos vão andando. Vão embora, uivando. A menina olha pra mim com grandes olhos cor de cobre e volta a correr.
Estamos de frente a um grande barranco. Ela começa a escalar. Eu fico apreensiva olhando-a. Sua destreza é impressionante, mas não mais do que a altura daquilo. Num susto vejo que seu pé esquerdo, o da perna machucada, escorregou e ela está caindo. Corro para segurá-la pouco antes que ela atingisse o chão. Ela arqueia seu corpo e geme baixinho. A queda deve ter lhe causado dor. Eu a coloco então em minhas costas e amarro sua capa em torno de mim de forma que ela está firmemente presa. E começo minha escalada.
Não parece que carrego alguém comigo. O peso da criança é o de uma pluma e eu não entendo. A subida fora menos difícil do que o que calculei. Chegando ao topo, a libertei de mim. Ela olhou para traz, para o que restava de um vilarejo ainda em processo de final destruição. Abaixou a cabeça e segurou minha mão.
Ela está novamente correndo. Agora me levando com ela. Um pouco a frente na colina ela para e começa a cavar o chão. Sem entender eu repito sua ação. Ela tira então da capa uma pequena muda de alguma planta que eu não conheço e coloca em minhas mãos.
O que eu devo fazer, plantá-la? Que sentido faz isso? Para que plantar uma árvore em meio a uma guerra devastadora? Não entendo... Ela olha pra mim cor urgência em seu olhar cor de cobre e eu a obedeço. Eu planto a muda e apalpo a terra para que fique firme. Ela olha para cima, para o céu cinza de fumaça. Começa então a chover. Uma chuva fina, tímida e fria... Ela olha para mim e sorri. O sorriso mais bonito que consigo me recordar de já ter visto. E então ela está ficando distante, os barulhos antes ensurdecedores da guerra começam a cessar... Não sinto mais a chuva tão fria... Eu...
Acordei.
Adormeci.
Uma criança escondida debaixo de uma mesa velha de venda de rua. A época é outra, muito distante. Ela está enrolada em uma capa, com o capuz cobrindo o resto. Ela respira nervosamente e parece esconder algo sobre a capa.
Uma explosão. Meu Deus, o que está acontecendo? Tudo treme e uma poeira se espalha em toda parte. A criança tosse. Respira fundo, olha por sobre a mesa e corre. Corre tanto que tenho que lutar para acompanhá-la.
Há pessoas mortas no chão e muitos feridos espalhados. É um cenário de guerra. Talvez seja uma, eu não sei...
Um homem fardado em preto agarra a criança por trás. O capuz cai, é uma menina. Ela se debate duramente tentando se livrar daqueles braços estupidamente fortes que a sufocam. Por fim ela o morde. Ele grita um grito surdo, coberto pelo barulho de outra explosão e a solta. A menina então recoloca o capuz e volta a correr.
Quando o homem a soltou, ela provavelmente se machucou na queda, agora manca da perna esquerda mas corre. Ainda muito.
Ela se afasta cada vez mais do vilarejo que estávamos. Vendo mais de longe posso afirmar: é uma guerra. Há tanques por toda parte e zeppelins, muitos deles circulando o céu.
A menina agora entra em um túnel muito baixo, preciso ficar de joelhos para conseguir atravessá-lo. Ao fim do túnel há três lobos. O macho alfa com seus dentes à mostra. A menina para um instante assustada. Com muito cuidado ela se aproxima dos lobos que começam a fazer barulhos ferozes com suas gargantas. Ela estende a mão e consigo ver alguma coisa nela, como se fosse uma espécie de tatuagem, algum símbolo gravado. Ela acaricia o macho alfa e os lobos vão andando. Vão embora, uivando. A menina olha pra mim com grandes olhos cor de cobre e volta a correr.
Estamos de frente a um grande barranco. Ela começa a escalar. Eu fico apreensiva olhando-a. Sua destreza é impressionante, mas não mais do que a altura daquilo. Num susto vejo que seu pé esquerdo, o da perna machucada, escorregou e ela está caindo. Corro para segurá-la pouco antes que ela atingisse o chão. Ela arqueia seu corpo e geme baixinho. A queda deve ter lhe causado dor. Eu a coloco então em minhas costas e amarro sua capa em torno de mim de forma que ela está firmemente presa. E começo minha escalada.
Não parece que carrego alguém comigo. O peso da criança é o de uma pluma e eu não entendo. A subida fora menos difícil do que o que calculei. Chegando ao topo, a libertei de mim. Ela olhou para traz, para o que restava de um vilarejo ainda em processo de final destruição. Abaixou a cabeça e segurou minha mão.
Ela está novamente correndo. Agora me levando com ela. Um pouco a frente na colina ela para e começa a cavar o chão. Sem entender eu repito sua ação. Ela tira então da capa uma pequena muda de alguma planta que eu não conheço e coloca em minhas mãos.
O que eu devo fazer, plantá-la? Que sentido faz isso? Para que plantar uma árvore em meio a uma guerra devastadora? Não entendo... Ela olha pra mim cor urgência em seu olhar cor de cobre e eu a obedeço. Eu planto a muda e apalpo a terra para que fique firme. Ela olha para cima, para o céu cinza de fumaça. Começa então a chover. Uma chuva fina, tímida e fria... Ela olha para mim e sorri. O sorriso mais bonito que consigo me recordar de já ter visto. E então ela está ficando distante, os barulhos antes ensurdecedores da guerra começam a cessar... Não sinto mais a chuva tão fria... Eu...
Acordei.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Sobre arquitetura.
Carro na garagem, o caminho agora é a sala, pé por pé até os vidros da caixa de joias em que a bailarina rodando sou eu. Liberta e presa em mim mesma, emano sem medo minhas luzes para quem quer que passe e queira ver. Afinal é noite, e a noite também sou eu. Na sala minha poltrona vermelha, tantas vezes meu divã que consigo até ouvir minha consciência bradar com ela mesma: "Ah, Lia!". Mas o passado passou e eu guardei minha nostalgia do lado de fora, ao centro, nem cá nem lá, só ali. E eu vivo na minha característica solidão aberta. Onde eu sempre posso ser eu, desde que os lados estejam todos cercados, para que eu continue sempre a me perder dentro de mim. Afinal é noite, e como minha casa bem diz, durante o dia basta o bonito e aceitável, à noite deixe que a luz se espalhe por onde bem entender. É questão de extensão... Minha casa sou eu de concreto e eu sou minha casa de pulmão.
Texto produzido na aula de Projeto I ministrada por Sérgio e Júnia, conforme proposta, inspirado na casa Single-Family Studio Residence (foto) do arquiteto Wendell E. Burnette. A casa foi construída em meio a um deserto, revestida em vidro e com blocos de concreto cercando-a por todos os lados. Possui três pisos, sendo: garagem no primeiro, residência e varanda lateral no segundo, terraço e piscina no terceiro.
Texto produzido na aula de Projeto I ministrada por Sérgio e Júnia, conforme proposta, inspirado na casa Single-Family Studio Residence (foto) do arquiteto Wendell E. Burnette. A casa foi construída em meio a um deserto, revestida em vidro e com blocos de concreto cercando-a por todos os lados. Possui três pisos, sendo: garagem no primeiro, residência e varanda lateral no segundo, terraço e piscina no terceiro.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Sobre cara e coroa.
Sou Reinaldo, sou eu, sou meu.
De viver sozinho vou andando,
Pelas saborosas portas de bares
E abertas bocas que já bebi
Ou já beijei.
Sou Reinaldo, sou glória, sou Rei!
Tentando me equilibrar, contando o saldo
E pensando
“Vai Reinaldo, que ser amigo da coroa é mais fácil que ser
Rei.”
Sou Reinaldo, sou Juan, Juan De Naldo.
Seu amante, seu cantante, seu suor,
Mas ao passar por cima de mim, minha joia rara,
De Mahal resta-me apenas no peito um ferido deus.
Sou Reinaldo, indo e vindo, e fui.
Já amei demais por nós dois, meu amor
E não posso mais,
Passárgada passou e eu fiquei.
Sou Reinaldo, nada.
Vou reinando o nada, do nada sou Rei.
Sou nada, Naldo. Sou Reinaldo e só.
Apenas um poeta sem inspiração [e fim.]
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