"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Sobre hipóteses.
E se você me olhasse da mesa da frente, de onde você está agora? Eu provavelmente te olharia de volta. E se eu te olhasse de volta? Você corresponderia meu olhar? Eu corresponderia o seu? E se você se levantasse fingindo ir a algum lugar só pra passar ao meu lado? Eu te seguiria com os olhos? Você me seguiria com os seus enquanto caminha? Eu gostaria do seu cheiro? Você se lembraria do meu? E se você viesse na minha direção? E se você falasse comigo? As borboletas continuariam no meu estômago? E se eu te respondesse? A conversa renderia? E se eu te dissesse aquilo? Provavelmente te daria a certeza do que você já desconfia. Talvez eu devesse me levantar. Talvez eu devesse ir até você. Talvez seja eu quem deve tomar alguma iniciativa. Mas não, provavelmente eu não vou. Ou vou? Eu devo ir. Devo. Ele se levantou. Olhou para mim. Eu devo. Recolheu a mochila. Olhou para mim. Eu devo. E foi embora. Olhando para mim. Eu devo, eu devo. Talvez eu devesse...
Sobre o menino que buscava.
Todo dia, às cinco horas, ele saía de casa, atravessava a rua em direção à escola e voltava com ela. Eram vizinhos os dois, de apartamento, mesmo andar. Ele gostava de buscá-la na escola.
- O que teve hoje?
- Muito dever. - ela respondia desanimada.
No outro dia:
- O que teve hoje?
- Lindas histórias - ela respondia sonhadora.
E no outro dia:
- O que teve hoje?
- Um aluno novo entrou na sala.
E era assim, sempre assim. De segunda a segunda. Até segunda...
- O que teve... Você deixou isso cair!
Era um papel onde ele conseguiu ver um coração e ler um nome antes que ela o tirasse rapidamente de suas mãos. Nesse dia ela não respondeu o que teve. Nesse dia ele percebeu que queria ser mais do que o garoto que buscava. Ele acabara de perceber que já era o garoto que amava.
No outro dia, quando ele foi buscá-la na escola, tinha um papelzinho nas mãos.
- O que teve hoje?
- As provas marcadas.
- Você deixou cair esse papel!
- Não é meu...
E ela nem viu o coração que ele havia desenhado mais cedo.
E no outro dia:
- O que teve hoje?
- Não acredito ainda que errei essa questão da prova! A resposta era boba de tão óbvia!
Ele abriu o portão com o braço em que tinha escrito EU TE AMO, de forma a deixar as letras bem visíveis. Mas a prova não deixou que ela visse o braço dele.
De amanhã não passaria. Chega de ficar noites em claro pensando em como seria se ela soubesse. Dessa vez ela saberia.
Hoje ele não atravessou a rua, parou no meio. Quando ela apareceu no portão, dele abriu a jaqueta deixando à vista a camisa com as palavras que ele logo disse:
- Eu te amo!
- Cuidado!
Ela o empurrou caindo sobre ele enquanto um carro passava por eles buzinando.
- Pensei que você não fosse mais falar! Como demorou! Eu também amo você!
Se beijaram. Da forma que caíram no passeio, ela sobre ele, se beijaram.
- Esses jovens de hoje em dia! - uma senhora descia a rua.
- O que teve hoje?
- Muito dever. - ela respondia desanimada.
No outro dia:
- O que teve hoje?
- Lindas histórias - ela respondia sonhadora.
E no outro dia:
- O que teve hoje?
- Um aluno novo entrou na sala.
E era assim, sempre assim. De segunda a segunda. Até segunda...
- O que teve... Você deixou isso cair!
Era um papel onde ele conseguiu ver um coração e ler um nome antes que ela o tirasse rapidamente de suas mãos. Nesse dia ela não respondeu o que teve. Nesse dia ele percebeu que queria ser mais do que o garoto que buscava. Ele acabara de perceber que já era o garoto que amava.
No outro dia, quando ele foi buscá-la na escola, tinha um papelzinho nas mãos.
- O que teve hoje?
- As provas marcadas.
- Você deixou cair esse papel!
- Não é meu...
E ela nem viu o coração que ele havia desenhado mais cedo.
E no outro dia:
- O que teve hoje?
- Não acredito ainda que errei essa questão da prova! A resposta era boba de tão óbvia!
Ele abriu o portão com o braço em que tinha escrito EU TE AMO, de forma a deixar as letras bem visíveis. Mas a prova não deixou que ela visse o braço dele.
De amanhã não passaria. Chega de ficar noites em claro pensando em como seria se ela soubesse. Dessa vez ela saberia.
Hoje ele não atravessou a rua, parou no meio. Quando ela apareceu no portão, dele abriu a jaqueta deixando à vista a camisa com as palavras que ele logo disse:
- Eu te amo!
- Cuidado!
Ela o empurrou caindo sobre ele enquanto um carro passava por eles buzinando.
- Pensei que você não fosse mais falar! Como demorou! Eu também amo você!
Se beijaram. Da forma que caíram no passeio, ela sobre ele, se beijaram.
- Esses jovens de hoje em dia! - uma senhora descia a rua.
Sobre aquele navio que todo mundo conhece. - Continuação I
O escuro agora era como uma fumaça que distorcia a visão. A cabeça, doía muito a cabeça de Anabell. Ela levantou-se com certa dificuldade e sentou-se num banquinho. Suas roupas estavam molhadas e pesadas, o lugar era escuro, com apenas uma vela para iluminação. Parecia um depósito. Anabell sentia frio.
Alguém abriu a porta deixando entrar um feixe de luz no lugar.
- Ai, essa luz!
- Você acordou! Como se sente? - era uma mulher, não era jovem como Anabell mas também não era velha.
- Que lugar é esse, quem é você e como cheguei aqui. - Anabell talvez não quisesse realmente usar esse tom imperativo, mas estava com medo.
- Você está em Jan Mayen. Um de nossos homens que chegava no navio te viu boiando no mar.
- Boiando no mar... ?
- Não se preocupe com isso agora, querida. Venha, vamos subir para que troque essas roupas molhadas.
Anabell estava mesmo num depósito. Quando saiu de lá entrou num corredor que dava num bar. As pessoas eram tão obscuras e sujas como o lugar. A mulher levou Anabell para uma escadaria que levava a um segundo andar.
- Espere aqui.
Anabell estava num quarto que parecia feito para uma criança. Um quarto grotesco, mas infantil. A mulher voltou.
- Aqui estão, devem servir para você. Troque sua roupa molhada e durma um pouco. Logo trago comida para você. Se precisar de alguma coisa, estarei lá embaixo. - a mulher beijou-lhe a testa e saiu.
Anabell se trocou e sentou-se na cama. Abriu a cortina. Mar, uma imensidão de água se abria a frente da janela.
"O navio está afundando!"
Ela se lembrou. Agora ela sabia o que tinha acontecido e precisava voltar. Ela desceu correndo as escadas, passou pelo bar e abriu abruptamente a porta.
- Maria! - a mulher corria atrás dela.
Havia uma multidão gritando num lugar que parecia um porto em frente a um navio que, ao que parecia, partiria em minutos.
- Maria, onde pensa que vai? - a mulher alcançara Anabell.
- Eu não me chamo Maria! Me solte!
- Você é Maria sim! Eu sei que Deus te levou de mim anos atrás mas ele viu, ele viu! Eu nunca esqueci de você, nunca desfiz seu quarto porque sabia que você voltaria, minha filha! Deus teve pena de mim e me devolveu minha menina!
Havia uma certa loucura naquilo, mas Anabell sentia pena daquela mulher que chorava e a segurava desesperadamente. Havia muita dor em seus olhos. Mas ela precisava voltar, não podia ficar ali.
- Solte-me! Eu não sou sua filha e nunca seria! Deixe-me ir, mulher! Largue-me!
Anabell soltou-se daqueles braços e correu deixando a mulher imóvel em meio às suas frias lágrimas.
Quando chegou naquela multidão, Anabell viu o que realmente estava acontecendo. Queriam sair da ilha, todas aquelas pessoas, mas os homens que estavam na embarcação não deixavam. A situação era violenta. Anabell pulou na água fria e nadou em direção à embarcação que agora conseguis avançar deixando o porto e a multidão para trás. Ela agarrou-se nos pés de um homem e começou a usá-lo como corda, escalou-o até conseguir finalmente estar a bordo. Ela sentou-se na ponta da embarcação ainda sem fôlego. A multidão continuava a gritar e uma mulher, agora caída, chorava na ponte. Era horrível.
Anabell andou pelos corredores daquela embarcação e sentou-se num banco, na parte externa do navio. No banco ao lado estavam dois senhores que conversavam. A viagem parecia demorar e Anabell de distraída com seus pensamentos. Até que ouviu parte da conversa dos dois senhores ao lado:
- Triste fim.
- Do que você fala?
- Foi aqui, o navio que afundou. Exatamente aqui.
Anabell correu até a proa do navio, o mar estava escuro. Estava. Algo começou a iluminar-se ali. Lá estavam, seu pai e sua mãe. Eles dançavam no que parecia um salão. Anabell continuou a andar agarrada às grades do navio. Havia um moço. Estava no que parecia ser um sofá. Erguia um copo em direção a ela como cumprimento. E tinha aqueles olhos, lindos olhos. Olhos que fizeram Anabell pular no gelado Atlântico Norte.
Alguém abriu a porta deixando entrar um feixe de luz no lugar.
- Ai, essa luz!
- Você acordou! Como se sente? - era uma mulher, não era jovem como Anabell mas também não era velha.
- Que lugar é esse, quem é você e como cheguei aqui. - Anabell talvez não quisesse realmente usar esse tom imperativo, mas estava com medo.
- Você está em Jan Mayen. Um de nossos homens que chegava no navio te viu boiando no mar.
- Boiando no mar... ?
- Não se preocupe com isso agora, querida. Venha, vamos subir para que troque essas roupas molhadas.
Anabell estava mesmo num depósito. Quando saiu de lá entrou num corredor que dava num bar. As pessoas eram tão obscuras e sujas como o lugar. A mulher levou Anabell para uma escadaria que levava a um segundo andar.
- Espere aqui.
Anabell estava num quarto que parecia feito para uma criança. Um quarto grotesco, mas infantil. A mulher voltou.
- Aqui estão, devem servir para você. Troque sua roupa molhada e durma um pouco. Logo trago comida para você. Se precisar de alguma coisa, estarei lá embaixo. - a mulher beijou-lhe a testa e saiu.
Anabell se trocou e sentou-se na cama. Abriu a cortina. Mar, uma imensidão de água se abria a frente da janela.
"O navio está afundando!"
Ela se lembrou. Agora ela sabia o que tinha acontecido e precisava voltar. Ela desceu correndo as escadas, passou pelo bar e abriu abruptamente a porta.
- Maria! - a mulher corria atrás dela.
Havia uma multidão gritando num lugar que parecia um porto em frente a um navio que, ao que parecia, partiria em minutos.
- Maria, onde pensa que vai? - a mulher alcançara Anabell.
- Eu não me chamo Maria! Me solte!
- Você é Maria sim! Eu sei que Deus te levou de mim anos atrás mas ele viu, ele viu! Eu nunca esqueci de você, nunca desfiz seu quarto porque sabia que você voltaria, minha filha! Deus teve pena de mim e me devolveu minha menina!
Havia uma certa loucura naquilo, mas Anabell sentia pena daquela mulher que chorava e a segurava desesperadamente. Havia muita dor em seus olhos. Mas ela precisava voltar, não podia ficar ali.
- Solte-me! Eu não sou sua filha e nunca seria! Deixe-me ir, mulher! Largue-me!
Anabell soltou-se daqueles braços e correu deixando a mulher imóvel em meio às suas frias lágrimas.
Quando chegou naquela multidão, Anabell viu o que realmente estava acontecendo. Queriam sair da ilha, todas aquelas pessoas, mas os homens que estavam na embarcação não deixavam. A situação era violenta. Anabell pulou na água fria e nadou em direção à embarcação que agora conseguis avançar deixando o porto e a multidão para trás. Ela agarrou-se nos pés de um homem e começou a usá-lo como corda, escalou-o até conseguir finalmente estar a bordo. Ela sentou-se na ponta da embarcação ainda sem fôlego. A multidão continuava a gritar e uma mulher, agora caída, chorava na ponte. Era horrível.
Anabell andou pelos corredores daquela embarcação e sentou-se num banco, na parte externa do navio. No banco ao lado estavam dois senhores que conversavam. A viagem parecia demorar e Anabell de distraída com seus pensamentos. Até que ouviu parte da conversa dos dois senhores ao lado:
- Triste fim.
- Do que você fala?
- Foi aqui, o navio que afundou. Exatamente aqui.
Anabell correu até a proa do navio, o mar estava escuro. Estava. Algo começou a iluminar-se ali. Lá estavam, seu pai e sua mãe. Eles dançavam no que parecia um salão. Anabell continuou a andar agarrada às grades do navio. Havia um moço. Estava no que parecia ser um sofá. Erguia um copo em direção a ela como cumprimento. E tinha aqueles olhos, lindos olhos. Olhos que fizeram Anabell pular no gelado Atlântico Norte.
sábado, 21 de maio de 2011
Sobre aquele navio que todo mundo conhece.
Londres, 10 de junho de 1907. James P. Morgan, dono do estaleiro Harland & Wolf, estava na sala de sua casa conversando com seu convidado, o senhor Bruce Ismat, que lhe havia compartilhado uma ideia de construir um navio.
- Um dos grandes! Vai ser maravilhoso, luxuoso e veloz! Um navio para ganhar todos os mares e deles ser consagrado rei, meu amigo!
A ideia foi aceita por James, que fechou um acordo com a White Line naquela mesma semana. Em 31 de março de 1909 iniciou-se a construção daquele poderoso navio. Foram necessários 1700 homens junto com um investimento de 10 milhões de dólares, e o navio estava pronto 27 meses depois. Em 31 de maio de 1911, às 12 horas, o navio foi colocado sobre a água pela primeira vez. Era apenas para teste, sem tripulantes, mas lá estavam Bruce Ismay e James Morgan para admirar aquele gigante. James levou também sua filha de 17 anos, Anabell.
- Como é grande, papai!
- Sim, minha filha. É grande e maravilhoso! E é seu, sabia?
A menina abraçou o pai sorrindo.
A viagem inaugural da deslumbrante embarcação foi adiada do dia 20 de março para o dia 10 de abril de 1912. Anabell estava na cabine deslumbrada com todos aqueles botões e sistemas. Capitão Edward J. Smith adentrou a sala.
- Aqui está Anabell! Seu pai está te esperando lá fora! Toda a imprensa veio registrar nossa partida e ele quer uma foto com a família toda. Vá!
- Com licença, Capitão!
A imprensa estava mesmo em peso lá. Não só a imprensa, mas Londres inteira por sinal. Anabell descia as escadas.
- Perdão, senhorita. - um rapaz trombou-se com ela.
- Tudo bem.
Lindos olhos. Demorou um pouco para que Anabell se lembrasse que estava descendo as escadas.
Foram várias fotos até que finalmente o navio partisse ao som de músicas animadas. Anabell queria conhecer cada parte daquele imenso navio. Era o que ocupava sua cabeça juntamente com o rapaz dos lindos olhos.
- Anabell, eu e seu pai vamos para o bar no segundo piso do navio. Você deve estar com fome, querida. Tem um ótimo restaurante francês daquele lado, passe lá.
A La Carte era o nome do restaurante. Ela se sentou em um sofá que ia de um canto do cômodo ao outro. Pediu um petit gateau e o comia distraidamente quando o rapaz, dono dos olhos que não lhe saíam da cabeça, sentou-se na outra ponta do sofá. Ele tinha um copo de bebida nas mãos e o levantou charmosamente em direção à garota cumprimentando-a. Ela respondeu com um meio sorriso. Agora ela saboreava seu prato calmamente, como se cada pedaço que colocava na boca lhe mostrasse como seria o gosto daquele rapaz com quem ela agora trocava olhares. Anabell já terminara de comer quando o rapaz levantou-se de seu lugar e caminhou em sua direção.
- Meu nome é Adrian, Adrian Vaines.
- Anabell Morgan.
Ele beijou a mão de Anabell. Não foi um beijo curto como os de costume quando se conhecia uma moça. Assim como Anabell através de seu petit gateau, o rapaz parecia estar fazendo o mesmo, imaginando qual seria o gosto daqueles lábios enquanto tocava-lhe as mãos com os seus.
- Posso sentar-me?
- Claro!
Eles conversaram por horas. Riam, brindaram, arrumavam desculpas para se tocarem.
- Já é tarde, Adrian.Preciso ir. Boa noite!
- Até amanhã, Anabell.
Ela saiu. Andava pelo corredor externo do navio em direção ao seu quarto quando sentiu um braço enlaçando sua fina cintura. Uma voz conhecida falou baixo com uma voz quente ao seu ouvido:
- Você precisa mesmo ir agora?
- Adrian...
Ele a puxou e se beijaram. Passaram a noite no quarto dele. Essa e outras noites. Eles se apaixonavam a cada dia de viagem. Até que chegou 15 de abril de 1912.
Anabell e Adrian estavam conversando num dos restaurantes do navio quando um homem entrou visivelmente desesperado.
- O navio está afundando, rápido, corram!
Os dois se olharam numa mistura de confusão, surpresa e desespero. O navio não devia estar afundando, não estava, não podia estar. Mas era verdade. Foi um desespero total.
- Vamos, Anabell! Vou garantir que se salve, venha!
Era uma loucura para entrar nos botes, se tornava quase impossível. Anabell viu Bruce Ismay golpear uma senhora para tomar seu lugar no bote e o olhou com reprovação.
- Meus pais, Adrian, meus pais!
- Anabell!
Mas a moça já tinha saído correndo. Não conseguia encontrar seus pais.
- Anabell! - era o capitão Edward - desculpe. Bruce me mandou navegar a todo vapor, eu não deveria ter lhe dado ouvidos. Eu não soube conduzir seu navio, eu não... eu não... Desculpe!
Um pedaço de metal quebrou o vidro da cabine e acertou Anabell.
Tudo estava escuro.
- Um dos grandes! Vai ser maravilhoso, luxuoso e veloz! Um navio para ganhar todos os mares e deles ser consagrado rei, meu amigo!
A ideia foi aceita por James, que fechou um acordo com a White Line naquela mesma semana. Em 31 de março de 1909 iniciou-se a construção daquele poderoso navio. Foram necessários 1700 homens junto com um investimento de 10 milhões de dólares, e o navio estava pronto 27 meses depois. Em 31 de maio de 1911, às 12 horas, o navio foi colocado sobre a água pela primeira vez. Era apenas para teste, sem tripulantes, mas lá estavam Bruce Ismay e James Morgan para admirar aquele gigante. James levou também sua filha de 17 anos, Anabell.
- Como é grande, papai!
- Sim, minha filha. É grande e maravilhoso! E é seu, sabia?
A menina abraçou o pai sorrindo.
A viagem inaugural da deslumbrante embarcação foi adiada do dia 20 de março para o dia 10 de abril de 1912. Anabell estava na cabine deslumbrada com todos aqueles botões e sistemas. Capitão Edward J. Smith adentrou a sala.
- Aqui está Anabell! Seu pai está te esperando lá fora! Toda a imprensa veio registrar nossa partida e ele quer uma foto com a família toda. Vá!
- Com licença, Capitão!
A imprensa estava mesmo em peso lá. Não só a imprensa, mas Londres inteira por sinal. Anabell descia as escadas.
- Perdão, senhorita. - um rapaz trombou-se com ela.
- Tudo bem.
Lindos olhos. Demorou um pouco para que Anabell se lembrasse que estava descendo as escadas.
Foram várias fotos até que finalmente o navio partisse ao som de músicas animadas. Anabell queria conhecer cada parte daquele imenso navio. Era o que ocupava sua cabeça juntamente com o rapaz dos lindos olhos.
- Anabell, eu e seu pai vamos para o bar no segundo piso do navio. Você deve estar com fome, querida. Tem um ótimo restaurante francês daquele lado, passe lá.
A La Carte era o nome do restaurante. Ela se sentou em um sofá que ia de um canto do cômodo ao outro. Pediu um petit gateau e o comia distraidamente quando o rapaz, dono dos olhos que não lhe saíam da cabeça, sentou-se na outra ponta do sofá. Ele tinha um copo de bebida nas mãos e o levantou charmosamente em direção à garota cumprimentando-a. Ela respondeu com um meio sorriso. Agora ela saboreava seu prato calmamente, como se cada pedaço que colocava na boca lhe mostrasse como seria o gosto daquele rapaz com quem ela agora trocava olhares. Anabell já terminara de comer quando o rapaz levantou-se de seu lugar e caminhou em sua direção.
- Meu nome é Adrian, Adrian Vaines.
- Anabell Morgan.
Ele beijou a mão de Anabell. Não foi um beijo curto como os de costume quando se conhecia uma moça. Assim como Anabell através de seu petit gateau, o rapaz parecia estar fazendo o mesmo, imaginando qual seria o gosto daqueles lábios enquanto tocava-lhe as mãos com os seus.
- Posso sentar-me?
- Claro!
Eles conversaram por horas. Riam, brindaram, arrumavam desculpas para se tocarem.
- Já é tarde, Adrian.Preciso ir. Boa noite!
- Até amanhã, Anabell.
Ela saiu. Andava pelo corredor externo do navio em direção ao seu quarto quando sentiu um braço enlaçando sua fina cintura. Uma voz conhecida falou baixo com uma voz quente ao seu ouvido:
- Você precisa mesmo ir agora?
- Adrian...
Ele a puxou e se beijaram. Passaram a noite no quarto dele. Essa e outras noites. Eles se apaixonavam a cada dia de viagem. Até que chegou 15 de abril de 1912.
Anabell e Adrian estavam conversando num dos restaurantes do navio quando um homem entrou visivelmente desesperado.
- O navio está afundando, rápido, corram!
Os dois se olharam numa mistura de confusão, surpresa e desespero. O navio não devia estar afundando, não estava, não podia estar. Mas era verdade. Foi um desespero total.
- Vamos, Anabell! Vou garantir que se salve, venha!
Era uma loucura para entrar nos botes, se tornava quase impossível. Anabell viu Bruce Ismay golpear uma senhora para tomar seu lugar no bote e o olhou com reprovação.
- Meus pais, Adrian, meus pais!
- Anabell!
Mas a moça já tinha saído correndo. Não conseguia encontrar seus pais.
- Anabell! - era o capitão Edward - desculpe. Bruce me mandou navegar a todo vapor, eu não deveria ter lhe dado ouvidos. Eu não soube conduzir seu navio, eu não... eu não... Desculpe!
Um pedaço de metal quebrou o vidro da cabine e acertou Anabell.
Tudo estava escuro.
sábado, 14 de maio de 2011
Sobre a minha confusão interna.
" I'm looking at you through the glass
Don't know how much time has passed
Oh God it feels like forever
But no one ever tells you that forever
Feels like home, sitting all alone inside your head.
Don't know how much time has passed
Oh God it feels like forever
But no one ever tells you that forever
Feels like home, sitting all alone inside your head.
How do you feel? That is the question
But I forget... you don't expect an easy answer
When something like a soul becomes
Initialized and folded up like paper dolls and little notes
You cant expect to bitter folks
And while you're outside looking in
Describing what you see
Remember what you're staring at is me
How much is real? So much to question
An epidemic of the mannequins
Contaminating everything
When thought came from the heart
It never did right from the start
Just listen to the noises
(Null and void instead of voices)
Before you tell yourself
It's just a different scene
Remember it's just different from what you've seen
And it's the stars
That shine for you
The stars
That lie to you... "
Through Glass - Stone Sour
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Sobre ocultar.
Ela estava ansiosa. Aquelas horas não passavam. Precisava ouvir a voz dele, precisava de uma resposta. Ela não tinha mentido. Mais cedo ele recebeu uma mensagem no celular: "I smell sex and candy here. Rua 7, Monvelich". Chegando no endereço indicado lá estava a garota. Nua, na cama com outro rapaz. Ela ligou para ele e ouviu coisas horríveis. Mandou várias mensagens perguntando porque tudo aquilo.
- Filha, precisamos conversar.
- Agora não, mãe.
- Você é adotada.
- O quê?!
- E gêmea. Pelo que me consta, seu namorado também precisa saber.
- Filha, precisamos conversar.
- Agora não, mãe.
- Você é adotada.
- O quê?!
- E gêmea. Pelo que me consta, seu namorado também precisa saber.
Sobre rotina.
Ele acordou, espreguiçou, levantou, urinou, comeu, bebeu, escovou, vestiu, calçou, olhou, abriu, saiu, fechou, trancou, dirigiu, chegou, cumprimentou, riu, trabalhou, odiou, esqueceu, voltou, comeu, banhou, arrumou, ouviu, dançou, ensaiou, encontrou, bebeu, fumou, viu, beijou, sentiu, saiu, transou, acordou, olhou, tomou, andou, distraiu, esqueceu, assustou, morreu.
Assinar:
Postagens (Atom)