"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Sobre frações.
Aos meus 18 anos estudava na mesma escola que G. Ele sempre chamou muito minha atenção (até demais), mas eu não tive tempo (?) ou oportunidade (?) para entender se eu cheguei a realmente sentir alguma coisa por ele. Afinal, com a gente estudava também P, meu então namorado. Como eu e G não estávamos na mesma sala e eu era tímida demais, não me lembro de termos trocado qualquer palavra. Só mesmo olhares quando passávamos um perto do outro e aquele frio no estômago quando isso acontecia. Ah, como éramos imaturos! Mas enfim... Outro motivo que talvez não tenha me deixado esclarecer as coisas em relação a G é que ele namorava L, da minha sala. P sempre foi um pouco ausente, mas era o jeito dele, nem me incomodava mais. Costume. Cheguei a pensar que essa minha confusão em relação a G pudesse até ser uma forma de suprir essa ausência. Mas o ano acabou sem que eu descobrisse. Nosso último ano escolar. Não soube mais dele, pra onde foi, que faculdade resolveu fazer, se continuou com L... Eu me casei com P. Ele sempre me fez muito feliz. Continuava com aquele seu jeito ausente, mas quando estava comigo, em presença de corpo e alma, me fazia bem. Feliz. A solidão as vezes se acumulava e então eu procurava algo com o que me distrair. Hoje mexendo em caixas antigas, encontrei um papelzinho com o desenho de um coração dividido em quatro partes. Três delas estavam coloridas em vermelho e tinham uma letra P. A parte restante se encontrava branca e tinha um G. Logo abaixo a frase "Você nem sabe que 1/4 é seu. Na verdade nem eu sei..." Ri de mim mesma. Coloquei o papelzinho na bolsa e saí. Talvez eu devesse mencionar que acredito em destino. Andando distraída pela loja de CDs, vi G. Anos se passaram, claro. Mas era impossível não me lembrar daquele rosto que não mudara quase nada (ainda tão lindo!). Para minha surpresa (grande surpresa!), ele me reconheceu e veio em minha direção (Porque eu sem perceber tinha simplesmente travado quando o vi). Sorríamos, mas não sabíamos o que dizer. Só se comunicavam nossos olhos meio assustados meio melancólicos meio apaixonados. Foi então que lembrei do papelzinho na minha bolsa e o entreguei. E agora essa sou eu, contando e explicando para G... Lembrando e ao mesmo tempo (e finalmente!) tentando entender o que foi aquilo. Ou ainda é...
Sobre o vôo.
"Olá, gato. Precisamos conversar." Rasguei o papel. O que eu escreveria depois? "Preciso de ajuda para fugir e agora vou viver com você." Ridículo. Ridículo mesmo é eu ainda estar estudando nesse internato comandado por freiras. Isso nunca foi pra mim. Aliás, nada nunca foi pra mim, por isso meus pais me mandaram pra cá e continuaram suas vidas em Dubai. Eles nunca quiseram filhos, eu fui um puta erro na vida deles. Mas agora quem não se importa mais sou eu. Depois da noite de ontem, nada mais me prende aqui. Eu e Marcos sempre tivemos muita atração um pelo outro. Sempre que ele vinha trazer as encomendas das freiras no internato a gente dava um jeito de se pegar sem que ninguém notasse. Mas sempre ele não podia demorar e ia embora. Ontem não. Ontem eu consegui levá-lo para o meu quarto. Aí sim! Ainda me arrepio só de lembrar da sua voz sussurrando aquelas palavras no meu ouvido. Era o impulso que me faltava para sumir daquele lugar. Amanhã quando ele voltar eu fujo com ele, está decidido. Finalmente conhecerei a liberdade e ainda poderei andar de mãos dadas com a sua irmã... Libertinagem.
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