- Segura esse homem antes que ele saia correndo e gritando feito um louco! - era Bruno, o melhor amigo de Davi.
- Cara, me segura mesmo! - e eles riam.
- Mas eu vim mesmo pra te chamar pra entrar porque o casamento vai começar e nós precisamos do noivo no lugar certo.
- Mas Elisa...
- É claro que você não vai ver Elisa antes do casamento, noivo desesperado! Vai pra lá, cara. Rápido, ou sua mãe surta!
- Ai, Deus!
Um carro parou em frente a igreja. Era Elisa. Elisa era linda. Seus traços pareciam ter saído de uma pintura. Ela tinha cabelos negros, olhos castanhos brilhantes e boca de coração.
Uma linda música tomou conta do lugar. Elisa entrava na igreja e seus olhos encontravam os de Davi e se entendiam. Eles se bastavam. O casamento, tão cuidadosamente planejado, foi perfeito. Na festa, os recém casados dançavam juntos.
- Ainda não consigo acreditar que você é minha... - Davi ainda trazia dentro de si aquele menino doce.
Depois de Elisa, Davi voltou a sonhar. Há muito ele não sabia o que era acordar pensando num sonho que durou toda a última noite e tentar decifrar os caminhos que sua mente havia percorrido. Desde aquele tombo na escada que seus pais tinham lhe contado mas que ele não se lembrava. A princípio Davi sonhava com Elisa, com seus pais e seus amigos, com pessoas conhecidas. Eram sonhos perfeitamente normais. Eram.
Certa noite, Davi sonhou com um lugar: uma ponte que passava sobre um lago e chegava a uma casinha muito simpática. Davi atravessava a ponte e batia na porta. Quando ela começava a se abrir, Davi acordava. Esse sonho se repetia por dias seguidos e sempre terminava do mesmo jeito. Terminava sem fim.
- Bom dia, meu amor! Ou devo te chamar de papai?
- Papai?! - Davi acabava de chegar à cozinha para tomar seu café e encontrou Elisa já de pé e com alguns papeis na mão.
- Sim, papai. É como você vai ser sempre chamado por alguém que daqui a pouco vai chegar. - Elisa entregou-lhe os papeis.
Ela estava grávida, Davi seria pai. Eles não podiam estar mais felizes! Naquele mesmo dia Davi foi a uma loja de brinquedos para comprar o primeiro presente do bebê. Na porta da loja havia um senhor fantasiado de palhaço distribuindo balões para as crianças. Davi sentiu-se arrepiar quando viu aquele homem. Ele simplesmente parara no meio da calçada sem conseguir se mover nem tirar os olhos do outro lado da rua. "Um palhaço triste..." - era uma voz feminina, doce, que Davi ouviu dentro de sua cabeça. Num flash Davi viu a imagem de um palhaço com sua maquiagem já toda borrada sentado numa poltrona. Uma lágrima descia por seu rosto. Foram segundos. Davi saiu correndo.
No trabalho não parou de pensar um minuto no que tinha acontecido. Desde quando esse medo de palhaços?
Algumas semanas se passaram até que Davi resolvesse ir em outra loja de brinquedos. Comprou uma bicicleta em miniatura que lhe chamou atenção. Já de saída parou em frente a uma vitrine com bonecos. Eram encantadores... Chegou a pensar se quando criança teve algum boneco. Não se lembrava. Riu da sua falta de memória e virou-se para ir embora.
- Psiu, hei, você!
Instintivamente Davi voltou-se para trás para ver quem estava chamando mas não viu ninguém. Quando seu olhar já ia passar de relance pela vitrine novamente, parou. O que é isso? Os bonecos todos encaravam Davi e podiam se mexer. Foi um soldadinho quem falou com Davi.
- Davi, não é?
Davi se aproximou da vitrine incrédulo.
- Faz muito tempo, eu sei. Talvez você nem se lembre, mas precisamos de você e você de nós.
Davi abaixou e apertou a cabeça.
- Eu não estou louco, não estou. Não estou...
- Você sabe onde deve ir.
Davi olhou para aqueles bonecos mais uma vez e saiu dali o mais rápido que conseguiu. Entrou em seu carro e o trancou. Abaixou a cabeça sobre o volante por um segundo. "O que está acontecendo comigo? Primeiro o palhaço, agora os bonecos. Deus! Eu vou ser pai agora, não posso estar enlouquecendo." Davi se olhou no retrovisor, estava pálido e suava. "Calma, vamos dar uma volta e você vai ver que não há nada de errado."
Davi ligou o som do carro no volume mais alto que alcançava e foi andando sem rumo e sem atenção. Quando deu por si, Davi estava longe da cidade e seu carro indo rapidamente em direção a uma ponte. Davi freou brusca e imediatamente e, no impacto, acabou batendo a cabeça com muita força no volante. Davi desmaiou.
"Comprador deste boneco, te peço, me ajude!"
"E Kim dá mais um de seus saltos fantásticos! E quando encosta na ponte não é mais uma boneca inanimada"
"O que deseja, pequeno rapaz?
Vim para a brincadeira"
"Você consegue ouvir atentamente a uma história, rapaz?"
"Sonhei com Guri."
"Você gostaria de fabricar bonecos?"
"Os bonecos ensinam tudo o que você precisar aprender..."
"Sim, eu quero!"
"É o seguinte: quero criar um boneco de mim, como um clone."
"Não acha um pouco perigoso?"
"A oficina é realmente incrível, Davi!"
"Ele nunca se atrasa."
"Era Davi estrangulando Davi!"
"Um... palhaço?!"
"Mãe, fala comigo! Eu sei que você está aí dentro agora."
"Um palhaço triste"
Um farol.
- Ah!
Vozes, imagens, tudo se misturava na cabeça de Davi que acordava de repente, assustado.
Agora ele se lembrava de tudo, seus bonecos, Albert Syn, o palhaço... E sabia onde estava.
Davi desceu do carro e atravessou a ponte. Bateu na porta.
- Ah, Davi! Eu sabia que você viria! - ele ainda era o velho palhaço.
- O que acontece agora? - Davi estava confuso, 18 anos haviam se passado.
O Palhaço colocou nos braços de Davi um boneco, um boneco com os mesmos traços de Davi e que parecia ter uns 9 anos; ele dormia. Davi observou o boneco, se observou em seus braços e seus olhos marejados se voltaram para o Palhaço sem saber o que falar.
- Bonecos são grandes professores, Davi. E além disso, como você mesmo deve ter visto, são mestres em dar segundas chances.
- E então, Davi - era ela, aquela linda boneca que agora parecia extremamente familiar a Davi - está pronto para ter sua segunda chance?
Vozes, imagens, tudo se misturava na cabeça de Davi que acordava de repente, assustado.
Agora ele se lembrava de tudo, seus bonecos, Albert Syn, o palhaço... E sabia onde estava.
Davi desceu do carro e atravessou a ponte. Bateu na porta.
- Ah, Davi! Eu sabia que você viria! - ele ainda era o velho palhaço.
- O que acontece agora? - Davi estava confuso, 18 anos haviam se passado.
O Palhaço colocou nos braços de Davi um boneco, um boneco com os mesmos traços de Davi e que parecia ter uns 9 anos; ele dormia. Davi observou o boneco, se observou em seus braços e seus olhos marejados se voltaram para o Palhaço sem saber o que falar.
- Bonecos são grandes professores, Davi. E além disso, como você mesmo deve ter visto, são mestres em dar segundas chances.
- E então, Davi - era ela, aquela linda boneca que agora parecia extremamente familiar a Davi - está pronto para ter sua segunda chance?