"Comece pelo começo - respondeu o Rei, muito sério - E vá até o fim. Quando terminar, pare." (Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)
domingo, 30 de maio de 2010
Sobre o mar.
-Ei! Não chegue perto do mar! Já está escurecendo e o Capitão logo vai chegar. Se ele te pegar, te come no jantar e você nunca mais volta - dizia a avó ao neto que procurava conchas na beira do mar. Não passava de mais uma história de terror inventada para manter as crianças longe do mar. Em termos.
Era uma madrugada como outra qualquer na cidade de Cornerstone e o mesmo sol apontou no céu. Surpresa! Quando olharam para o fim da praia, em meio às rochas viram um imenso navio. O navio do Capitão Ness. Apavorados por verem que a lenda era real, os moradores da pequena Cornerstone foram para suas casas, acenderam velas e rezaram. Alguns corajosos entraram na grande embarcação, dois homens e uma mulher. No outro dia havia somente seus corpos boiando na água. Os homens com seus corpos másculos separados da cabeça e à mulher faltava uma perna e seu nariz. Mas o que queria o Capitão Ness? Matar homens e pegar partes femininas para quê? É onde a lenda passa a ser história.
Há tempos, John Ness se apaixonara por uma linda jovem com a qual teve duas lindas meninas: Any e July, gêmeas. A Mulher morrera no parto. Ele, pela falta que sentia da mulher, largou sua olaria e se isolar no mar com as duas meninas. Ele nunca soube como, mas em um ano apenas, as duas meninas tinham porte e mentalidade de lindas moças de uns dezessete anos. E por aí pararam, não mais cresceram nem envelheceram. O pai nunca tentou entender, apenas deslumbrava a beleza das filhas. Certo dia, nadando no mar como sempre faziam, Any e July encontraram um lindo rapaz. Tom era o nome dele. O pai observava os três ao longe. Cansado de ficar parado, adentrou seu navio procurando por algo com que se entreter. Encontrou barbantes e foi brincando com eles até chegar ao lado de fora do navio novamente para observar as filhas. Capitão Ness, homem de estatura mediana, corado pelos dias no mar, forte, cabelos ligeiramente grisalhos, profundos olhos azuis. Esse homem se perdeu ao ver o que acontecia na sua frente. O barbante cai de suas mãos sem força enquanto ele vê o corpo de Any ser arrastado por um grande peixe que parecia homem ou homem que parecia peixe, e o corpo de July boiando no mar sem uma perna. Ainda tonto pelo susto, Ness aproximou seu navio do corpo na água e o resgatou, deixando-o cair de bruços no navio. Virando com cuidado o corpo delicado da garota e tirando seus cabelos daquele lindo rosto, Ness percebeu que faltava ali um nariz. Nos olhos congelados da filha, ele sentiu pavor e um fogo de ódio percorreu sua espinha. Aí é onde se arrebenta a tênue linha entre a obscessão e a sanidade de um homem. O lendário Capitão Ness, que acabara de surgir, pegou o corpo de mármore de sua filha e o manteve no navio, uma sala especial somente para adorá-la. Aos pés daquele corpo incompletamente lindo, Ness mostrou sua raiva e jurou vingança. Absorto em sua ira, o Capitão Ness começou a matar todos os homens que se aproximavam do navio, ainda pela lembrança de Tom. Ainda mais absorto em sua loucura, ele arrancava pernas e narizes das garotas que via e achava parecidas com sua July. Ele tentava a qualquer custo reconstruir o corpo da filha, mas nada se encaixava perfeitamente ali. Anos se passaram e ele persistia em suas tentativas fracassadas. Numa noite de agosto, Ness se encontrou em meio a um nevoeiro. Começou uma tempestade terrível que fez o mar se agitar e dar um solavanco no navio. Capitão Ness foi jogado do outro lado do navio, batendo a cabeça e perdendo os sentidos. Quando o Capitão acordou pela manhã, seu navio estava preso num rochedo e três pessoas perambulavam por ele. Sem fazer barulho, o dono do navio Trovão Choroso pegou sua foice e matou os dois homens arrancando-lhes a cabeça sem pensar duas vezes. A mulher apavorada tentou fugir, mas Capitão Ness mostrou o homem gentil que era e a puxou de volta pelos cabelos. Ela começou a engatinhar freneticamente no chão, fugindo. Aos tropeços, chegou numa sala onde havia um cadáver de pé numa espécie de caixa de vidro. Com muito custo, a mulher reconheceu o corpo e disse num sussurro com o pouco de voz que lhe restava: "Any". Um barulho de ferro e ossos se partindo; o crânio da mulher. Ness cortou-lhe a perna esquerda e o nariz. Remendou-os em July: "Ainda não é você, minha princesa.". Decidido a deixar o lugar, o Capitão jogou os corpos na água e estudou uma forma de desencalhar o navio. Dos rochedos, avistou na praia perfeitas pernas e um belo nariz. Era ela, era July! Mas não July sua boneca de retalhos, July viva e linda, sua única filha caminhando pela areia. O garboso John Ness não se esquecera de como conquistar uma mulher. Buscou seu violão no navio e pôs-se a tocar. Any ouviu a música na areia e procurou de onde vinha. Enfeitiçada, foi em direção dos rochedos. Capitão Ness cheirou-lhe o pescoço e afagou-lhe os cabelos. Era perfeita! Naquela mesma madrugada, o Trovão Choroso estava novamente ao mar, a toda velocidade se distanciando de Cornerstone. E foi assim por dois meses. O navio sem rumo, Any enfeitiçada por um homem que ea não sabia ser seu pai e Ness passando todas as noites no porão do navio. Até que chegou a noite que a loucura daquele homem tanto o fizera esperar. Capitão Ness agarrou Any com violência, como nunca fizera antes, cravando seu corpo contra o dele. Ainda tonta pelo Capitão, Any sentiu uma dor terrível transpassar seu corpo. Quando conseguiu olhar, sua perna não estava mais ali. A dor a entorpecia, a fez perder os sentidos. Logo depois anestesiou-a da vida. Em seguida, Ness arrancou-lhe o nariz reto e empinado. Remendou pela última vez sua boneca July e a levou para o porão. Colocou-a com cuidado num lugar marcado e arrancou-lhe o coração. "Eu te amo, minha menina." foram as últimas palavras daquele Capitão que se encaminhava para outro lugar também marcado e puxava uma alavanca. Uma máquina estranha foi acionada. Suas garras rasgaram o peito do Capitão Ness e levaram seu coração ainda quente e pulsante ao peito aberto da filha que deu um primeiro suspiro pesado de vida - ou morte.
Estava criado o monstro.
Sobre o casarão e os garotos.
Eram quatro adolescentes que se desejavam secretamente, duas garotas e dois rapazes. Depois de alguns copos com 75% de teor alcoólico não poderiam ir para casa. Por que não pernoitar na casa abandonada no final da rua? O medo daquela casa e das histórias que a cercavam ficaram no último copo. Lara, Luiz, Marcela e Thomás. Entraram na casa. Thomás foi curioso na frente seguido por Marcela. Lara e Luiz vinham logo atrás sem saber se andavam, se agarravam ou brigavam. Era uma casa feito aqueles casarões antigos com direito a um grande salão de festas e uma enorme escada que levava ao andar superior onde seus donos foram encontrados mortos, abraçados, no corredor. "Fantasmas? Ah, claro que não!" - Thomás tentava se controlar por pensamento. Quem criara a casa tinha o cérebro mais esperto do mundo e o coração mais frio. Os boatos acerca da casa se dividiam. Uns diziam que os fantasmas do casal não abandonaram o lugar e que todo último dia do mês, às 23:30, dançavam a mesma valsa de seu casamento. Outros diziam que o criador da casa havia colocado nela passagens secretas, armadilhas e que toda a casa funcionava sob total controle de um número que ninguém sabia qual era ou, se sabia, desconhecia o fato e o jeito de utilizá-lo. E lá estavam os quatro garotos.
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sexta-feira, 21 de maio de 2010
Into the night.
"Mas, naquele instante, a lua, deslizou entre nuvens negras, apareceu por trás da rugosa cresta de um penhasco que pendia ameaçador, coberto de pinheiros. À luz do astro, vi ao nosso redor um círculo de lobos com dentes brancos e membros longos e sinuosos, assim como pêlos em desalinho. Eram mil vezes mais terríveis quando conservavam lúgubre silêncio do que quando uivavam. Quanto a mim, o medo paralisara-me. É apenas quando um homem se vê face a face com tais horrores que pode compreender seu significado." Drácula - Bram Stoker
Sobre asas.
Hoje quando Isabela sentou-se para escrever em seu diário, esperava escrever coisas concretas e objetivas, como sempre, refletindo o tédio de todos os seus dias. Mas dessa vez foi diferente. Nenhum pensamento organizado lhe passou pela cabeça. Estava tudo tão confuso... Tudo o que ela conseguia lembrar era aquele rosto, aquele belo rosto se abrindo em um sorriso largo num brilhante cenário de asas. Isabela não era cética, mas também nunca tivera no que acreditar. Pensou por mais de uma vez em se jogar da janela do quarto para ver se seu anjo viria lhe salvar. Para ver aquele rosto mais uma vez e se sentir entre seus braços. Desde que fora descoberto, ele desaparecera. A vida de Isabela nunca tinha sido algo glorioso, memorável, encantado, que a fizesse querer continuar vivendo. Havia uma solução simples para isso: a janela. A janela veio, o anjo não. Ele apenas esperou, ao longe, que ela trilhasse o seu mesmo caminho. Foi exatamente por ele que andei.
Sobre a eternidade.
Não é o sangue, não são os dentes, não são os olhos, não é a sedução. É a morte, não a eternidade. Quando o sol não aquece, nos valemos da lua. Somos seres noturnos, sanguinários, sedutores e assassinos. Quando se tem a eternidade, vale apenas a busca pelo prazer de um psicopata. Moldar o mundo, controlar pessoas e suas mentes, se alimentar delas. Isso aquece o frio de nossa doce e venenosa imortalidade.
Wonderland.
"Nunca imagine você mesma ser outra coisa diferente daquilo que possa parecer aos outros que você é ou poderia ter sido se não fosse diferente daquilo que você aparenta ser às outras pessoas."
"-Tudo está tão esquisito hoje! E ainda ontem as coisas estavam tão normais... Será que durante a noite eu virei outra pessoa? Deixe-me pensar: Hoje de manhã, quando acordei, eu era a mesma pessoa? Tenho uma vaga lembrança de ter me sentido um pouquinho diferente. Mas se eu não for eu mesma, a próxima pergunta é: Quem eu sou? Essa é a questão!"
"-Se cada um tratasse de sua própria vida - resmungou a Duquesa - o mundo giraria bem mais depressa."
Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll
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