Carro na garagem, o caminho agora é a sala, pé por pé até os vidros da caixa de joias em que a bailarina rodando sou eu. Liberta e presa em mim mesma, emano sem medo minhas luzes para quem quer que passe e queira ver. Afinal é noite, e a noite também sou eu. Na sala minha poltrona vermelha, tantas vezes meu divã que consigo até ouvir minha consciência bradar com ela mesma: "Ah, Lia!". Mas o passado passou e eu guardei minha nostalgia do lado de fora, ao centro, nem cá nem lá, só ali. E eu vivo na minha característica solidão aberta. Onde eu sempre posso ser eu, desde que os lados estejam todos cercados, para que eu continue sempre a me perder dentro de mim. Afinal é noite, e como minha casa bem diz, durante o dia basta o bonito e aceitável, à noite deixe que a luz se espalhe por onde bem entender. É questão de extensão... Minha casa sou eu de concreto e eu sou minha casa de pulmão.
Texto produzido na aula de Projeto I ministrada por Sérgio e Júnia, conforme proposta, inspirado na casa Single-Family Studio Residence (foto) do arquiteto Wendell E. Burnette. A casa foi construída em meio a um deserto, revestida em vidro e com blocos de concreto cercando-a por todos os lados. Possui três pisos, sendo: garagem no primeiro, residência e varanda lateral no segundo, terraço e piscina no terceiro.