Londres, 10 de junho de 1907. James P. Morgan, dono do estaleiro Harland & Wolf, estava na sala de sua casa conversando com seu convidado, o senhor Bruce Ismat, que lhe havia compartilhado uma ideia de construir um navio.
- Um dos grandes! Vai ser maravilhoso, luxuoso e veloz! Um navio para ganhar todos os mares e deles ser consagrado rei, meu amigo!
A ideia foi aceita por James, que fechou um acordo com a White Line naquela mesma semana. Em 31 de março de 1909 iniciou-se a construção daquele poderoso navio. Foram necessários 1700 homens junto com um investimento de 10 milhões de dólares, e o navio estava pronto 27 meses depois. Em 31 de maio de 1911, às 12 horas, o navio foi colocado sobre a água pela primeira vez. Era apenas para teste, sem tripulantes, mas lá estavam Bruce Ismay e James Morgan para admirar aquele gigante. James levou também sua filha de 17 anos, Anabell.
- Como é grande, papai!
- Sim, minha filha. É grande e maravilhoso! E é seu, sabia?
A menina abraçou o pai sorrindo.
A viagem inaugural da deslumbrante embarcação foi adiada do dia 20 de março para o dia 10 de abril de 1912. Anabell estava na cabine deslumbrada com todos aqueles botões e sistemas. Capitão Edward J. Smith adentrou a sala.
- Aqui está Anabell! Seu pai está te esperando lá fora! Toda a imprensa veio registrar nossa partida e ele quer uma foto com a família toda. Vá!
- Com licença, Capitão!
A imprensa estava mesmo em peso lá. Não só a imprensa, mas Londres inteira por sinal. Anabell descia as escadas.
- Perdão, senhorita. - um rapaz trombou-se com ela.
- Tudo bem.
Lindos olhos. Demorou um pouco para que Anabell se lembrasse que estava descendo as escadas.
Foram várias fotos até que finalmente o navio partisse ao som de músicas animadas. Anabell queria conhecer cada parte daquele imenso navio. Era o que ocupava sua cabeça juntamente com o rapaz dos lindos olhos.
- Anabell, eu e seu pai vamos para o bar no segundo piso do navio. Você deve estar com fome, querida. Tem um ótimo restaurante francês daquele lado, passe lá.
A La Carte era o nome do restaurante. Ela se sentou em um sofá que ia de um canto do cômodo ao outro. Pediu um petit gateau e o comia distraidamente quando o rapaz, dono dos olhos que não lhe saíam da cabeça, sentou-se na outra ponta do sofá. Ele tinha um copo de bebida nas mãos e o levantou charmosamente em direção à garota cumprimentando-a. Ela respondeu com um meio sorriso. Agora ela saboreava seu prato calmamente, como se cada pedaço que colocava na boca lhe mostrasse como seria o gosto daquele rapaz com quem ela agora trocava olhares. Anabell já terminara de comer quando o rapaz levantou-se de seu lugar e caminhou em sua direção.
- Meu nome é Adrian, Adrian Vaines.
- Anabell Morgan.
Ele beijou a mão de Anabell. Não foi um beijo curto como os de costume quando se conhecia uma moça. Assim como Anabell através de seu petit gateau, o rapaz parecia estar fazendo o mesmo, imaginando qual seria o gosto daqueles lábios enquanto tocava-lhe as mãos com os seus.
- Posso sentar-me?
- Claro!
Eles conversaram por horas. Riam, brindaram, arrumavam desculpas para se tocarem.
- Já é tarde, Adrian.Preciso ir. Boa noite!
- Até amanhã, Anabell.
Ela saiu. Andava pelo corredor externo do navio em direção ao seu quarto quando sentiu um braço enlaçando sua fina cintura. Uma voz conhecida falou baixo com uma voz quente ao seu ouvido:
- Você precisa mesmo ir agora?
- Adrian...
Ele a puxou e se beijaram. Passaram a noite no quarto dele. Essa e outras noites. Eles se apaixonavam a cada dia de viagem. Até que chegou 15 de abril de 1912.
Anabell e Adrian estavam conversando num dos restaurantes do navio quando um homem entrou visivelmente desesperado.
- O navio está afundando, rápido, corram!
Os dois se olharam numa mistura de confusão, surpresa e desespero. O navio não devia estar afundando, não estava, não podia estar. Mas era verdade. Foi um desespero total.
- Vamos, Anabell! Vou garantir que se salve, venha!
Era uma loucura para entrar nos botes, se tornava quase impossível. Anabell viu Bruce Ismay golpear uma senhora para tomar seu lugar no bote e o olhou com reprovação.
- Meus pais, Adrian, meus pais!
- Anabell!
Mas a moça já tinha saído correndo. Não conseguia encontrar seus pais.
- Anabell! - era o capitão Edward - desculpe. Bruce me mandou navegar a todo vapor, eu não deveria ter lhe dado ouvidos. Eu não soube conduzir seu navio, eu não... eu não... Desculpe!
Um pedaço de metal quebrou o vidro da cabine e acertou Anabell.
Tudo estava escuro.
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